quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A Individualidade “Número-Lógica”

Por Fernanda Campos
Nasci, e a primeira coisa que recebo não são sorrisos e abraços carinhosos. Ganhei uma pulseira, nela meu nome junto com um número registravam minha chegada. Mais de fato isso muda, a gente cresce, aprende a falar, a andar, e logo entramos na adolescência. Ai ganha-se uma identidade, número este que vai nos acompanhar por toda a vida, ele nos torna gente, cidadão, ajuda a construir nossa história.

 Quando jovens, simplesmente estamos tão ocupados com as descobertas do novo mundo que mal percebemos que estamos sendo moldados, esculpidos, ganhamos um CEP, um CPF, um RG. Na escola não somos ciclano ou beltrano, somos matrícula...

A vida vai passando, e por diversas vezes vamos escutar durante nossa caminhada a seguinte frase: Pense numa seqüência de números. Sendo que não pode ser sua data de nascimento, nem número seguidos 1, 2, 3, 4. Pensou?

Parece até brincadeira de criança, mas na verdade sem os números o ser humano simplesmente não existe. Ou será que você conhece alguém que não tenha os famosos números de identificação? É, a sociedade se julga democrática, bate no peito afirmando que temos livre arbítrio, liberdade de escolha... liberdade? Como posso ser livre se sem número sou indigente? Ou simplesmente me apagam da sociedade, como se não existisse perante os olhos do mundo?

O que nos diferencia do colega ao lado são dígitos. No Banco não sou cliente sou senha, para as companhias de telefonia sou apenas mais um número de celular, códigos. Somos escravos de nós mesmos, pois não temos como dizer não às regras, às leis, aos inúmeros números, que juntos formam uma falsa democracia, que nos garantem uma identidade, um nome, que nos foi dado na doce ilusão de ser livre.

Mas que liberdade é essa? Se para trabalhar precisamos de registro profissional, carteira de trabalho, documentos, previdências. Vivemos numa prisão, a qual nós mesmos construímos, e para sair é preciso passaporte, foto, carimbo, autorização, selos. E quem impôs estas regras? Elas simplesmente existem, e nós a seguimos sem nos perguntar, sem questionar. Acordamos todos os dias e como marionetes e robôs vivemos nesse cercado, numa rotina.

Não gritamos em nossas casas para não receber alguma advertência do vizinho e quem sabe viver em harmonia. Gastamos mais da metade de nossas vidas trabalhando em busca de uma vida melhor. E quando adquirimos a estabilidade financeira, enfim tempo para usufruir de nossas conquistas ai adivinha? Não nos resta saúde, nem nos resta muito tempo. Entramos numa nova fase “numerológica”, fase dos números de médicos, planos de saúde, seguro de vida.

Ao longo da vida, vamos criando senhas, dígitos, registros. Uns involuntários, outros obrigatórios e quando menos percebemos já estamos codificados, marcados. E tudo para ser alguém, ter acesso, ser diferente, isso se chama individualidade e no mundo de hoje muitas vezes o que irá te diferenciar dos outros são simplesmente eles, os números...

2 comentários:

Cristian Delosantos disse...

Muito bom o texto,mas vou resumir meu comentário também à numeros:
nota 10.

Unknown disse...

Caraca...isso é muito verdade!
Só que vivemos num mundo tão corrido que as coisas acontecem sem que a gente se de conta!
Amei o texto...Show!
Vou repassar.

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